sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Direito a desligar

Tenho assistido com interesse à discussão sobre a previsão legal no ordenamento jurídico português do direito a desligar.

A ideia é tão precursora que até teve honras de notícia no New York Times.

Conhecendo bastante bem as entidades empregadoras portuguesas, não imagino o sofrimento que é terem de assistir à tentativa de tornar o teletrabalho algo cada vez mais generalizado.

Como bom S. Tomé, os portugueses precisam de ver (ou achar que vêem) todo o processo de execução. Não basta que o resultado surja. É preciso que surja diante de si. Chamem-lhe desconfiança ou outra coisa qualquer, certo é que se trata de algo cultural e difícil de combater. Com pézinhos de lã, o teletrabalho lá vai avançando (haja COVID para obrigar a perceber a viabilidade desta forma de trabalho em muitas situações).

Chegar ao ponto de haver necessidade de legislar expressamente o direito a desligar (direito que é constantemente violado também no caso de quem trabalha presencialmente). é daquelas coisas que me causa comichão. Como lírica que sou, acho que se trata de um direito tão básico e óbvio que devia bastar olhar para os princípios gerais que constam quer da Constituição quer do Código do Trabalho. Já percebi que não é assim, descansem.

A questão é que o bom senso (chamemos-lhe assim) é muito subjectivo e intangível (o que se aplica aos dois lados da relação laboral, diga-se em abono da verdade) o que não só dificulta a sua regulamentação como a torna particularmente perigosa. Vamos ver no que dá.

Entretanto, desliguemos que amanhã joga o CPE.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

O sangue da Dona Silvina


Hoje nem eu me consigo aturar tal a vaidade.

Receber um telefonema, na sequência de uma atitude que tive,  em que me disseram “só podia ter sido você, é mesmo o sangue da Dona Silvina a correr nas suas veias”, deixou-me mais inchada que um perú.

Sou muito pequenina ao lado da minha avó pelo que a comparação foi nitidamente um exagero, mas admito que gostei muito até porque o português com açúcar soa sempre muito bem aos meus ouvidos.

Obrigada querida Aldeir, aqui a escrava branca está nas nuvens.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Muita simpatia e responsabilidade q.b.

 A 500 mts do portão da escola, um adolescente de cerca de 16 anos cumprimentou-me com um grande sorriso e perguntou-me as horas.

08h36, disse-lhe, vais ter de correr!

Pois vou, respondeu com outro enorme sorriso enquanto seguia caminho no mesmo ritmo vagaroso.


sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Às vezes é preciso sair da zona de (des)conforto!



Enquanto esperava no cabeleireiro (por falar em (des)conforto) não pude evitar ouvir a conversa do lado.

Uma senhora médica estava quase a hiperventilar porque uma colega “com quarenta e tal anos!” tinha decidido deixar a medicina.

“Mas está tudo maluco ou serei eu que estou errada?!!! Com quarenta e tal anos, deixar a medicina?!!!”.

Enquanto eu me encantava com a história e questionava o porquê de tanto incómodo, pensando que a senhora se preocupada com uma eventual dificuldade de reentrada no mercado de trabalho, eis que  fui surpreendida pelo motivo. Dizia ela - “é que apesar das propinas, a maior parte do curso é pago pelo Estado!”.

Ou seja, aquela senhora não estava preocupada com a pessoa em causa e a enorme angústia que deve ter sentido durante anos. Nem sequer lhe passava pela cabeça quão mau é para os pacientes serem cuidados por uma profissional sem vocação. Para ela o problema é o custo suportado pelo Estado (e directa ou indirectamente pelo seu bolso).

Sair da zona de conforto é duro, muito duro. São muitas as questões que pesam e uma delas é precisamente a falta de atenção de quem está fora do peito e por isso não sente a dor e ardor causados pela ansiedade.

A coragem de sair da zona de conforto (que a dada altura é já de um desconforto atroz) é merecedora de todos os aplausos e vénias. Gostaria muito de conhecer esta corajosa ex médica para lhe expressar de viva voz toda a minha admiração.


quarta-feira, 10 de novembro de 2021

A 6 meses de chegar aos 45 anos!


 Acabo de constatar que estou a 6 meses de chegar aos 45 anos! 

Considerando que devo ter aumentado uns bons 10 kgs neste último mês e meio (vejam bem estas bochechas), tudo o que me ocorre dizer é “Deus continue a ajudar-me!”.

terça-feira, 2 de novembro de 2021

A forma subtil como me chamaram acumuladora

Tenho dificuldade em desfazer-me de objectos da família, como é sabido, pelo que “limpar” a casa dessas memórias é um exercício moroso é-me doloroso.

Tenho perfeita noção que nalguns casos só estou a mudar coisas de sítio. Que o guardar folhas amareladas cheias de rabiscos em nada altera sentimentos mas, apesar disso, persisto nesse apego.

Hoje, depois de um desses momentos, disseram-me “também és Matos!” e foi a forma mais subtil e bonita de me chamarem acumuladora.

É sempre um orgulho ser comparada com o meu avô Emílio.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Vou só ali vender um rim e já volto

 A patroa mais nova precisa de uma flauta transversal nova e está convencida que já está na fase em que se impõe que a mesma seja de prata.

Vou só ali vender um rim e já volto que eu faço tudo pelas patroas (só que não).

Volte sempre senhor carteiro

  Volte sempre senhor carteiro. Volte sempre.