sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

E viveram felizes para sempre


"E viveram felizes para sempre".


Vitória. Vitória, acabou-se a história.


História contada, história arrumada".


Todas as santas noites, Ariana, ouvia aquela "conversa para boi dormir".


Já em criança se questionava se a mãe acreditava mesmo nas histórias que lhe contava.

Bem a ouvia a contar à vizinha, a história do casamento de sonho da prima Maria Eduarda e do Carlos que saíram da igreja numa charrete puxada por cavalos brancos e se divorciaram ainda os pais estavam a pagar os empréstimos feitos para pagar a boda.

E nas revistas cor-de-rosa, guardadas religiosamente pela senhora da limpeza, só via sequências de fotos nas quais as juras de amor eterno efectuadas em alto mar, acabavam em sessões públicas de lavagem de roupa suja e disputa pela guarda de criancinhas que mais pareciam armas de arremesso, feitas em biscuit.

À medida que ia crescendo, aumentava em Ariana a percepção de que algo não batia certo naqueles finais de história.

Pois se o caminho estava a começar, como era possível garantir felicidade eterna?

O caminho faz-se caminhando, como diz aquele poeta castelhano que a professora de filosofia passa o tempo a citar.

“Viveram felizes para sempre”. Dito assim parece estar-se a falar de uma casa começada a construir pelo telhado. Não admira que entre em colapso em três tempos.

O padre Albano já tinha explicado na catequese que não existe felicidade eterna. É a dor que faz crescer e fortalecer o Amor, logo a “felicidade para sempre” não passa de um mito inventado por algum “fazedor de ilusões”.

Se o Homem fosse uma régua e o caminho um esquadro, recta seria a vida e lineares as emoções.

Ou estaria enganada? Gostava de pensar que sim, que iria conhecer o seu príncipe encantado ao virar da esquina e, com ele, construir os alicerces da casa.

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