"E viveram felizes para
sempre".
Vitória. Vitória, acabou-se a história.
História contada, história arrumada".
Todas as santas noites, Ariana, ouvia aquela "conversa para boi dormir".
Já em criança se questionava se a mãe acreditava mesmo nas histórias que lhe contava.
Bem a ouvia a contar à vizinha, a
história do casamento de sonho da prima Maria Eduarda e do Carlos que saíram da
igreja numa charrete puxada por cavalos brancos e se divorciaram ainda os pais
estavam a pagar os empréstimos feitos para pagar a boda.
E nas revistas cor-de-rosa, guardadas
religiosamente pela senhora da limpeza, só via sequências de fotos nas quais as
juras de amor eterno efectuadas em alto mar, acabavam em sessões públicas de
lavagem de roupa suja e disputa pela guarda de criancinhas que mais pareciam
armas de arremesso, feitas em biscuit.
À medida que ia crescendo, aumentava
em Ariana a percepção de que algo não batia certo naqueles finais de história.
Pois se o caminho estava a começar,
como era possível garantir felicidade eterna?
O caminho faz-se caminhando, como diz
aquele poeta castelhano que a professora de filosofia passa o tempo a citar.
“Viveram felizes para sempre”. Dito
assim parece estar-se a falar de uma casa começada a construir pelo telhado.
Não admira que entre em colapso em três tempos.
O padre Albano já tinha explicado na
catequese que não existe felicidade eterna. É a dor que faz crescer e
fortalecer o Amor, logo a “felicidade para sempre” não passa de um mito inventado
por algum “fazedor de ilusões”.
Se o Homem fosse uma régua e o
caminho um esquadro, recta seria a vida e lineares as emoções.
Ou estaria enganada? Gostava de pensar
que sim, que iria conhecer o seu príncipe encantado ao virar da esquina e, com
ele, construir os alicerces da casa.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigada por dar vida a este blog.