domingo, 31 de janeiro de 2021

Para quê?

 Como a maioria saberá, sofri recentemente uma grande perda.
A minha prima/irmã, 2 anos mais nova que eu, foi-me roubada pelo cancro.
Aquela que, na família, tinha mais vida.
A que era mais regrada e cuidadosa com a saúde. Aquela que estava sempre preocupada connosco. Aquela que, em 2009, me dizia para falar com ela se precisasse de um transplante de medula e que iria estar na rectaguarda quando eu contasse aos avós que iria fazer quimio.
Para quê estas voltas que a vida dá?
Alguém consegue perceber?


terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Gosto de te imaginar aí em cima

Gosto de imaginar aí em cima, em grandes conversas com o avô sobre temas tão relevantes como a necessidade de esclarecer se Alegrete é uma vila ou uma aldeia.

Gosto de imaginar aí em cima, a desfrutar da companhia do teu pai, felizes com as vitórias do vosso SCP.

Gosto de te imaginar aí em cima, sempre atenta aos nossos passos e a dar palpites sobre tudo o que fazemos.

Gosto de te imaginar aí em cima, orgulhosa do percurso  que fizeste na terra.

Gosto de te imaginar aí em cima, a preparar a festa que será o nosso reencontro.


segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Uma semana


 Há uma semana por esta hora, tentava digerir a notícia da tua partida.

Embora esperada, a notícia fez-me tremer como varas verdades.

Que saudades querida prima. Que consolo saber que não ficou nada por dizer.

Que bom saber-te eternamente viva dentro do meu coração por ter tido o privilégio de partilhar o teu sangue.



segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Viverei de saudades tuas


Querida primana, como gostavas de me chamar, tivemos tempo (demais) para nos despedirmos e dizermos quanto nos amávamos. Não escreverei (pois) nada de novo.

Se houve algo de bom neste teu longo calvário foi a possibilidade de não deixarmos nada por dizer.

Viverei de saudades tuas até ao último dos meus dias na terra e tu viverás eternamente em mim. 

Deixaste rasto nesta tua rápida corrida por este mundo terreno.

Ninguém (daqueles que contigo algum dia privaram) esquecerá o teu exemplo de perseverança, a determinação com que agarravas todos os touros pelos cornos, as unhas que cravavas na pele dos que te faziam frente quando não havia outra solução.

Bateu a má porta esse maldito cancro. Foste osso duro de roer. Nunca desististe. De tanto acreditar, suportaste mais do que é humanamente possível. Não eras deste mundo, só pode.

Com o coração em sangue, e o consolo de saber que aí onde estás continuarás a dar-me na cabeça a torto e a direito, cerrarei os dentes e continuarei em frente. Foi isso que me ensinaste desde pequenina, quando ambas cabíamos no colo da avó.








domingo, 10 de janeiro de 2021

Análise política da patroa pequena

 Patroa pequena - mas ele julga que é filho do Trump?!!!

Pai - não deve ser, o Trump é loiro!

Patroa pequena (de chofre) - então sai à mãe!

Temos analista política.

sábado, 9 de janeiro de 2021

Mãe, porque é que chamar cigano a alguém é um insulto?

 Uma noite destas, a minha mais nova saiu-se com esta dúvida. Porque é que chamar cigano a alguém é um insulto?

A pequena tem uma colega cigana desde o primeiro ano   e nunca viu nada nela que a torne diferente dos outros colegas.

Mas é também uma menina atenta ao mundo e, presentemente, aos debates entre os candidatos presidenciais.

Daí a sua surpresa. A sua colega cigana é uma menina como as outras. Porque é que chamar cigano a uma pessoa que não o seja é insulto.

À conta de um sr. candidato, a minha filha foi apresentada ao preconceito. O preconceito não nasce com as pessoas. É-lhes incutido. 

Generalizar sem olhar para o indivíduo é do mais perigoso que há. Fomentar essa ideia de generalização e, consequentemente o preconceito, é criminoso.

É isto vindo de quem se diz católico ganha contornos ainda mais chocantes.

Preocupa-me o crescimento de garotos espelho de Trump, esse mesmo que foi eleito democraticamente com os resultados que conhecemos.

Conforta-me o facto das minhas filhas, sem que em nada as influenciarmos, já terem tirado a pinta à personagem.

sábado, 2 de janeiro de 2021

O melhor em 2020

Esta foto foi tirada no finalzinho de 2020, num daqueles momentos em que recebi um presente dos céus ao poder visitar a minha avó. Com dificuldade, consegui manter a racionalidade e não avançar o acrílico para lhe saltar para o colo e beijar aquelas mãos macias.

Mas foi preciso receber esta foto (tirada já em 2021) para finalmente perceber o que, para mim, foi melhor em 2020.



E o melhor em 2021 foi, definitivamente, ir sabendo que a minha avó mantém sempre um grande sorriso no rosto e emana uma serenidade incrível que encanta todos aqueles que a cuidam.

Esse sorriso foi o melhor em 2020, não só pelo amor que lhe tenho mas também pelo o que a minha avó simboliza na família.

Ela, que sempre foi a raiz e aguentou tudo para nos manter unidos, não só o conseguiu como foi capaz de passar o testemunho e vejo agora o seu papel a ser assumido pelos meus pais e primos.

É este sorriso que (agora sem que ela o saiba) continua a dar-nos alento nos momentos difíceis que temos vindo a atravessar na família e nos conforta por sentirmos que a dolorosa decisão de a colocar num lar foi a mais acertada pois em casa, e apesar de todos os esforços, não conseguíamos dar-lhe o a qualidade de vida que agora tem.

Um sorriso que (por mais paradoxal que possa parecer) se deve em grande parte ao Alzheimer que, sendo uma coisa má, tem a virtude de proteger a minha avó daquelas notícias que ninguém quer ouvir (e são bastantes os desgostos familiares a que tem sido poupada).

Viva o sorriso da minha avó. 

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Primeira aprendizagem de 2021

 Com o início de 2021 veio a primeira aprendizagem. Orégãos não combinam, de todo, com arroz de marisco. E, já agora, é importante ler os rótulos devidamente não permitindo que as afirmações da nossa mãe nos toldem o raciocínio.

E era isto que queria partilhar.

Volte sempre senhor carteiro

  Volte sempre senhor carteiro. Volte sempre.