segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Viverei de saudades tuas


Querida primana, como gostavas de me chamar, tivemos tempo (demais) para nos despedirmos e dizermos quanto nos amávamos. Não escreverei (pois) nada de novo.

Se houve algo de bom neste teu longo calvário foi a possibilidade de não deixarmos nada por dizer.

Viverei de saudades tuas até ao último dos meus dias na terra e tu viverás eternamente em mim. 

Deixaste rasto nesta tua rápida corrida por este mundo terreno.

Ninguém (daqueles que contigo algum dia privaram) esquecerá o teu exemplo de perseverança, a determinação com que agarravas todos os touros pelos cornos, as unhas que cravavas na pele dos que te faziam frente quando não havia outra solução.

Bateu a má porta esse maldito cancro. Foste osso duro de roer. Nunca desististe. De tanto acreditar, suportaste mais do que é humanamente possível. Não eras deste mundo, só pode.

Com o coração em sangue, e o consolo de saber que aí onde estás continuarás a dar-me na cabeça a torto e a direito, cerrarei os dentes e continuarei em frente. Foi isso que me ensinaste desde pequenina, quando ambas cabíamos no colo da avó.








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