Não sabia em que dia da semana
estava, muito menos que horas eram.
A sensação que tinha era a de que
um nevoeiro enorme se havia instalado dentro da cabeça.
Fazia anos que não chorava. Desde
o dia, há já 45 anos, em que lhe telefonaram de Angola a dizer que o marido, o
único homem que conhecera e a quem jurara amor eterno, havia partido para
sempre e sem avisar.
Naquele instante desabou em
lágrimas. Pensou no que diria aos filhos e aos sogros. No pouco que seria saberem
que tinham um anjo-da-guarda.
Depois disso o seu corpo gelou e,
juntamente com ele, as lágrimas. Vestiu-se de preto e só se permitia um
apontamento de cor na roupa que vestia, azul como o céu para onde ele partira.
Até àquele momento em que,
enquanto arrumava uma gaveta, encontrou um envelope envelhecido,
Nunca mais se tinha lembrado
daquela carta, a primeira que o marido lhe enviou assim que chegou a Angola.
Com o coração a cavalgar, apertou
o papel contra o peito. Seguidamente aproximou-o do nariz, na ânsia de tornar a
sentir aquele cheiro a lavanda tão próprio do seu amantíssimo marido.
Quis reler as suas palavras, mas senitu medo do efeito que teriam.
Estava morto. Não voltaria. Para
quê desenterrar um passado que já sabia irremediavelmente definitivo?
Pensou rasgar aquela carta,
entretanto molhada pelas lágrimas que teimaram em rasgar-lhe os olhos. De
repente ganhou coragem, limpou os olhos à ponta do avental azul e começou a ler
a carta.
A resposta estava ali, naquele
último parágrafo, que anos antes lhe tinha soado a frase feita.
“Porque estaremos sempre juntos,
seja na terra seja no céu. Recebe um beijo do eternamente teu, Júlio”.
Ele estava vivo e tornariam a
abraçar-se.
Até lá era ela que tinha de
voltar a viver.
Que texto mais lindo....... deixou-me um sorriso nos lábios!
ResponderEliminarFaço um esforço diário para pensar assim.... para conseguir suportar a dor dos que já não estão connosco, aqui.....
Obrigada por alimentares o meu pensamento!!!
Eu é que agradeço, as tuas visitas e a simpatia dos comentários.
EliminarAcredito verdadeiramente que eles só não estão aqui... beijinhos