terça-feira, 10 de julho de 2018

A (minha) vida após o linfoma

Há dias conversava com alguém que conheci recentemente. Durante a conversa, a pessoa em causa fez uma piada qualquer sobre o cancro e, quando se apercebeu, ficou muito atrapalhada e pediu mil desculpas.

Descansei-a, dizendo que a piada não me tinha melindrado até porque era muito mais feliz depois de ter tido cancro.

Neste ponto, os olhos da minha interlocutora esbugalharam-se e eu senti-me um pouco tonta e na necessidade de explicar este sentimento.

Numa junta médica a que fui durante a quimio, um dos médicos disse-me em tom de alento "linfoma de Hodgkin? Então são 6 meses e fica boa".

Efectivamente, a minha quimio durou 6 meses e desde então (passados 8 anos e meio) não tenho tido nada de muito relevante em termos físicos.

Em termos psicológicos não será bem assim. Há medos e dúvidas que irão sempre pairar no ar mas não há volta a dar. O pior que poderia acontecer seria deixar-me condicionar por eles e isso acho que não acontece.

Sou bem mais feliz depois do linfoma, sem dúvida alguma. Claro que dispensava bem a experiência mas se calhar, não fosse ela, e continuava a passar pela vida sem a disfrutar plenamente naquilo que tem de mais simples.

Provavelmente porque tudo o que paira à volta de uma doença como esta nos mostra quão valioso é cada segundo.

Aprendi a disfrutar tudo ao máximo, a elogiar tudo e todos (só e quando acho que o elogio é devido, naturalmente).

Fiquei sem a mínima pachorra para desperdícios, de que natureza forem e, admito, relaxada em muitos pormenores, ao ponto de irritar quem leva tudo um pouco mais a sério.

Não é por mal, mas é incontornável.

"Guardar só o que é bom de guardar", "descomplicar", "amar muito", em resumo VIVER são as minhas prioridades.

Sim, sou mais feliz depois do linfoma.

Só há uma coisa que permanece imutável. A alergia a adrenalina. Para mim, um simples escorrega infantil é uma aventura radical.

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