Enquanto esperava no cabeleireiro (por falar em (des)conforto) não pude evitar ouvir a conversa do lado.
Uma senhora médica estava quase a hiperventilar porque uma colega “com quarenta e tal anos!” tinha decidido deixar a medicina.
“Mas está tudo maluco ou serei eu que estou errada?!!! Com quarenta e tal anos, deixar a medicina?!!!”.
Enquanto eu me encantava com a história e questionava o porquê de tanto incómodo, pensando que a senhora se preocupada com uma eventual dificuldade de reentrada no mercado de trabalho, eis que fui surpreendida pelo motivo. Dizia ela - “é que apesar das propinas, a maior parte do curso é pago pelo Estado!”.
Ou seja, aquela senhora não estava preocupada com a pessoa em causa e a enorme angústia que deve ter sentido durante anos. Nem sequer lhe passava pela cabeça quão mau é para os pacientes serem cuidados por uma profissional sem vocação. Para ela o problema é o custo suportado pelo Estado (e directa ou indirectamente pelo seu bolso).
Sair da zona de conforto é duro, muito duro. São muitas as questões que pesam e uma delas é precisamente a falta de atenção de quem está fora do peito e por isso não sente a dor e ardor causados pela ansiedade.
A coragem de sair da zona de conforto (que a dada altura é já de um desconforto atroz) é merecedora de todos os aplausos e vénias. Gostaria muito de conhecer esta corajosa ex médica para lhe expressar de viva voz toda a minha admiração.
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