Nas costas dos outros lia as
suas, mas aquilo que ouvia dizer não coincidia com a imagem reflectida pelo espelho.
Lembrou-se então de uma frase
lida algures “ninguém pode ser escravo da sua identidade. Quando surge uma
possibilidade de mudança é preciso mudar”, e invejou o seu autor pela coragem
de se libertar do seu eu e procurar “eus” alternativos.
Veio-lhe também à memória uma
entrevista na qual Madonna, o seu ídolo de juventude, falava sobre a Cabala e
os quatro tipos de identidade que acredita existirem (Cósmica, terrestre, cultural,
pessoal).
Quais destas identidades poderia
controlar?
De si só sabia, percebia-o agora,
chamar-se José Silva, morar num bairro do subúrbio de Lisboa e trabalhar numa
fábrica de moldes.
Quem era e porque o era assim?
Era assim que queria ser?
Precisava desesperadamente de
encontrar respostas para estas questões e só o conseguiria quando se
conseguisse ver, sem ter a visão toldada pelas ideias pré-concebidas que a
sociedade impõe.
Mas como, se essa clarividência
só os recém-nascidos a têm? Tinha de mudar de identidade.
Cada vez mais confuso pensou
mudar de nome. Duarte Salvador. Agradava-lha a sonoridade e força deste nome.
Dirigiu-se então ao Registo Civil
onde lhe disseram que teria de fazer um requerimento muito bem fundamentado
dirigido a um Ministro qualquer e pagar uma taxa, não havendo certeza quanto ao
seu deferimento.
O nome era seu mas não o podia
alterar livremente.
Exausto, chegou a casa e desejou
dormir durante 30 dias. Talvez nos seus sonhos conseguisse calçar os sapatos de
outro alguém e viver fora de si.
Enquanto esperava o sono,
surgiu-lhe uma ideia. Levantou-se, encheu uma mochila com garrafas de água e
latas de conserva e dirigiu-se ao Museu do Conhecimento.
A entrada era livre ao domingo de
manhã. Aquela seria a sua casa no próximo mês.
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