- Como vai
chamar-se a menina, perguntou o funcionário do registo civil?
- Vitória. Vitória de Fátima respondeu a avó, comovida.
Vitória não fora uma criança desejada e a mãe não de cansava de lho fazer sentir, parecendo retirar prazer ao contar todas as tentativas que fez para abortar.
Quis Deus que a pequena vingasse e se tornasse na mais bonita da aldeia, encantando com o seu porte elegante e os olhos verdes, espelhados, com pupilas verticais.
Quando tinha quinze anos foi acometida de febres altas que a faziam delirar e murmurar palavras imperceptíveis que soavam a miados de gato.
- Vitória. Vitória de Fátima respondeu a avó, comovida.
Vitória não fora uma criança desejada e a mãe não de cansava de lho fazer sentir, parecendo retirar prazer ao contar todas as tentativas que fez para abortar.
Quis Deus que a pequena vingasse e se tornasse na mais bonita da aldeia, encantando com o seu porte elegante e os olhos verdes, espelhados, com pupilas verticais.
Quando tinha quinze anos foi acometida de febres altas que a faziam delirar e murmurar palavras imperceptíveis que soavam a miados de gato.
Com a avó sempre à cabeceira da cama a colocar-lhe pachos de água fria na fronte, e quando já ninguém acreditava, o milagre aconteceu. Vitória sobreviveu, e mais uma vez sem mazelas.
Mais tarde foi a toxoplasmosque lhe trouxe insuportáveis dores musculares e de cabeça.
Os azares foram-se sucedendo ao longo da vida, fazendo aumentar os cotos de velas espalhados pela casa mesmo em frente às imagens dos santinhos de devoção da avó.
Por seis
vezes esteve à morte e outras tantas dela escapou, como se lhe fosse
superior.
Desta vez era
um cancro que, apesar de metastizado por todo o corpo, não a impedia de
percorrer a aldeia a pedalar na velha pasteleira que fora do avô.
Atrás de
si, sempre a uma distância suficiente para lhe dar liberdade ou atacar
quem pudesse querer-lhe mal, seguia uma gata persa cujos olhos se
assemelhavam aos de um mocho inspirando respeito aos que se cruzavam com o
bichano vindo ninguém sabe de onde.
Começou a
correr o boato de que Vitória de Fátima tinha poderes sobre-humanos e de todos
os lados chegavam pessoas em busca de inspiração e cura para os
mais variados males.
Vitória a todos ouvia, indecisa entre
permitir que se mantivessem na ilusão de acreditar naquilo que a eles dava
vida ou explicar-lhe que, tendo nascido no dia 4 de Outubro, dia de S.
Francisco de Assis (santo protector dos animais) tinha tão somente a sorte de
poder partilhar as 7 vidas daquela gata que inexplicavelmente a seguia.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigada por dar vida a este blog.