Quem me lê sabe que a minha avó materna, o esteio da nossa família, é A mulher que sempre quis ser mas a cujos calcanhares jamais chegarei porque simplesmente é grande demais para que possa ser deste mundo.
A minha avó tem Alzheimer. Os seus olhos não me reconhecem mas o seu coração tem uma memória indestrutível.
Não é qualquer pessoa que tem a benção de chegar aos 44 anos e continuar a ter a avó a desatar os nós que se lhe formam na garganta.
Não há nó na garganta que resista quando ouve “esta é a minha menina”, mesmo que o resto da frase deixe de ter nexo.
Não há nó na garganta com mais força que dezena de beijinhos na face dados pela avó, mesmo com uma máscara a tapar-lhe os lábios.
Sou abençoada por este Amor indestrutível e indiferente a um qualquer Alzheimer.
Sou e serei sempre a menina da minha avó, tal como as minhas irmãs e primos. O coração da avó é elástico.
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