sábado, 13 de setembro de 2014

Bem vinda à escola pública II (resposta ao meu senhor marido)

Na sequência deste post, o meu senhor marido fez uma série de comentários que, analisados literalmente, demonstram uma opinião totalmente contrária da minha aos quais agora (com mais calma) irei responder.

Antes disso, não posso deixar de dizer que os quase 7 anos de casamento (que assinalamos já em Outubro) têm tido como base a partilha e defesa de princípios comuns que, curiosamente, no início de namoro não se percebiam.

Felizmente demos tempo ao tempo e descobrimo-nos mutuamente ao ponto de, passados 10 anos de relacionamento, continuarmos juntos a desbravar  caminhos.

Isto para dizer que esta troca de argumentos sobre a escola pública não significa discordância absoluta relativamente aos princípios. O que houve aqui foi uma abordagem e leitura de factos feito de ângulos distintos.

Mas passemos ao essencial.

"A unanimidade nas visitas parece resolver a questão de uns irem e outros não. Mesmo que houvesse condições para deixar as crianças, não me parece que fosse justo umas irem e outras ficarem. Porque não os pais se organizarem e proporcionarem a ida de todos? "

Meu comentário - a desigualdade de rendimentos, que permite a umas crianças participarem em determinadas actividades e a outras não, é uma questão que nos preocupa aos dois e que temos discutido bastante ao longo destes tempos pois coloca-se também na escola privada.

Agora, de facto, a solução não deverá  passar por nenhuma criança ir ao passeio, mas por encontrar soluções que permitam que todos vão. E, estando nós a falar de uma escola pública, eu esperava que essa solução (ou pelo menos proposta) viesse do Estado.

A mim parece -me que faria muito mais sentido apresentar um PAT (é assim?) que preveja só 1 visita e  solução que permita a participação dos meninos que não tenham recursos do que perguntar aos pais, numa reunião se querem uma ou duas visitas mas avisar logo que a decisão tem de ser unânime (não tendo os ausentes voto na matéria) e que se algum menino não for também não pode ficar sózinho na escola.

Parece-me, de facto, não ser o sistema (como diria o outro) mais razoável. Têm  de existir regras com um mínimo de objectividade.

O que não pode é acontecer o que aconteceu no ano lectivo passado, em que se recorreu aos donativos dos pais, mas como nem todos contribuiram e só no final do ano se reuniram condições, já não foi possível obter autorização atempada  de Lisboa para realizar a visita.

 Resultado, houve alguns pais a contribuir, nenhuma criança passeou, o saldo transitou para este ano e irá beneficiar outras crianças mas possivelmente já não os filhos de alguns dos pais que contribuiram.

Parece-me estranho, no mínimo.

Quanto aos pais ajudarem aqueles que não podem, obviamente que concordo e serei sempre das primeiras a avançar, enquanto a minha situação assim o permitir.

"Se um pai falhar uma reunião, azar! É exactamente aqui o ponto, os pais têm de participar, têm de se envolver nas questões da escola. É um dos princípios orientadores da escola, e não devia ser apenas da pública".

Meu comentário - não podia estar mais de acordo com o princípio, mas referia-me aos pais que não vão às  reuniões por impossibilidade, por exemplo, de faltar ao trabalho. E há empresas que não acham grande piada a pais preocupados em acompanhar a vida escolar dos filhos.

Eu, por exemplo, tive a sorte de só ter chegado 10 minutos atrasada (pelos vistos o azar de nesses 10 minutos ter sido dada grande parte da informação).

"Escola gratuita? Nem pensar, podemos falar de tendencialmente gratuita, mas nem tudo tem de ser dado. Nem tudo pode ser toma lá e pronto. O sistema de compra de material pode e deve ser afinado, mas englobar os pais neste sistema parece-me bem. A escola tem o básico para funcionar, o restante tem de ser colmatado com a ajuda dos pais".

Meu comentário - Primeiro de tudo, acho que "lápis e borrachas" deviam caber no conceito de "básico para funcionar"; depois há uma coisa chamada taxas (utilizada, por exemplo, no sistema nacional de saúde).

Presumindo que os escalões dessas taxas são fixados de acordo com critérios objectivos e minimamente justos e que os cidadãos cumprem todas as suas obrigações declarativas teríamos um financiamento suplementar do sistema e cada um contribuiria de acordo com a sua capacidade financeira.

Agora arranjar um orçamento (por melhor que seja) e dividir por todos os pais, independentemente da sua capacidade financeira não me parece, de todo, justo.

Estamos só a falar de pais que podem não ter recursos, mas também haverá aqueles que se vão "esquecendo "da sua quota parte de responsabilidade. Vamos sobrecarregar todos os outros? Os meninos ficam à espera dos lápis e borrachas?

Enfim, fiquei boquiaberta com a falta de organização.

Isto não significa que o sistema não tenha aspectos positivos e que não deixarei de aqui realçar pois cada vez mais gosto de elogiar em vez de criticar.

E tenho dito :)


1 comentário:

  1. olá Susana, tudo bem?
    As questões que levantas são realmente importantes e revi-me em 2 situações que a joaninha vivenciou na pré: uma, a questão do passeio- na sala dela havia uma criança com necessidades especiais, mas autónoma em termos de mobilidade; e qd se pôs a saída em passeio decidiu-se que não ia ninguém pq era complicado levá-lo, mas tb não se podia deixá-lo ficar....resultado naõ foi ninguém; qt à comparticipação monetária para os materiais foi outra luta, inglória diga-se desde já, pq durante 3 anos tive de pagar 5€ todos os meses para a aquisição dos materiais da salinha, e por muito que me insurgisse e chegasse mm a dizer que enqt os outros não pagassem eu tb não pagava mais acabei por ir pagando qd nem metade dos pais pagava, e se uns poucos tinham algumas necessidades- que isto é mt relativo se considerarmos necessitados aqueles que passam o tempo em cafés e afins, como de certeza tb conheces mt casos- os outros era por se iam esquecendo...e assim foram meia dúzia de meninos a suportar os gastos de todos com a agravante de que os que não contribuíam eram os que mais estragavam. Custa mt aceitar!!!!! Desculpa o desabafo. Bj

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