quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Cuidados Paliativos - resposta aterradora!

Recentemente enviei um e.mail ao Ministério da Saúde e a todos os grupos parlamentares relatando uma situação, da qual tenho conhecimento directo, que retrata a miséria que se vive em Portugal no que diz respeito aos Cuidados Paliativos.

No final do e.mail, um simples comentário sobre aquilo que acho ser imoral e que é defender a eutanásia a todo o custo sem ter o cuidado de defender uma boa rede de cuidados paliativos, de forma a dar dignidade até ao final da vida.

Mas não era esse, de todo, o propósito do e.mail. Simplesmente quis, junto daqueles que nos representam na Assembleia da República dar a conhecer uma realidade concreta e pedir que lhe dessem atenção.

Até ao momento recebi duas respostas. A do Bloco de Esquerda, que apreciei, na forma e teor.

Já a do grupo parlamentar "Os Verdes", que transcrevo abaixo, deixou-me verdadeiramente aterrorizada.

"Exma. Senhora,
 
Encarregam-me os senhores deputados – Heloísa Apolónia e José Luís Ferreira – de acusar a receção e agradecer a sua mensagem eletrónica, que mereceu a sua melhor atenção. Existe uma Lei de Bases dos Cuidados Paliativos e se não há maior investimento nesses cuidados, assim como nos cuidados continuados, é porque houve, ao longo dos tempos, quem trocasse esse investimento pelos valores do défice e metesse sempre o défice à frente de tudo. O Estado tem o dever de garantir o acesso dos doentes aos cuidados paliativos e de assegurar uma boa rede destes cuidados, com o objetivo de prevenir e aliviar o sofrimento físico, psicológico, social e espiritual e melhorar o bem-estar e o apoio aos doentes e às suas famílias, quando associado a doença grave ou incurável, em fase avançada e progressiva, como determina a lei.
Não é a despenalização da morte medicamente assistida, a pedido do doente e em casos extremos, que vai retirar 1 cêntimo que seja ao investimento nos cuidados paliativos, até porque não implica a contratação de mais médicos ou enfermeiros nem investimento em equipamento hospitalar.
 
Sem mais de momento, apresentamos os melhores cumprimentos,".
 
NOTA: o sublinhado é meu.
 
Nem uma palavra sobre  o facto de estarem atentos e defenderem condições para que o direito a viver dignamente até ao fim seja uma realidade e, aquilo que me choca mais, a preocupação de frisar que não será a despenalização da morte medicamente assistida que vai retirar "1 cêntimo que seja" ao investimento nos cuidados paliativos.
 
Quero muito acreditar que esta foi só uma resposta infeliz e até dou de barato que defendam a eutanásia, embora me choque a conclusão que  retiro da mesma - Os cuidados paliativos implicam custos e não há vontade política; já a eutanásia seria de graça pelo que não se percebe a inacção do Estado.
 
O que não concebo é que que coloquem a vida dos outros ao desbarato sem demonstrar sequer a intenção de combater a falta de vontade política em investir em cuidados paliativos, independentemente daquelas que sejam as convicções relativas à eutanásia.
 
Tão mau, que respondi:
 
"Boa tarde
 
acuso a recepção do v/ e.mail, que agradeço.
Constato, porém, que não me devo ter expressado bem no meu e.mail.
 
O que espero dos grupos parlamentares é que trabalhem junto do Estado no sentido de que os direitos dos cidadãos sejam salvaguardados. No caso concreto, o direito a viver com dignidade até ao fim, independentemente daquela que seja a sua posição relativamente à eutanásia.
 
Lamentavelmente, ao que parece, a preocupação é de que frisar que a despenalização da morte medicamente assistida não vai ter implicação nos cuidados paliativos.
 
Uma nota importante - no caso que apresentei houve direito a uma morte medicamente assistida; a pessoa em causa faleceu num hospital e teve acesso a meios medicamentosos que conseguiram evitar a dor. Cuidados paliativos são mais do que isso. Uma questão de semântica, ou talvez não".

Estamos assim, mais capazes de defender a morte como solução do que a dignidade no fim da vida.
 
Dá que pensar.

 
 
 

2 comentários:

  1. Olá Susana,

    Eu sou defensora da eutanásia, em casos concretos, cuja vontade expressa e inequívoca do paciente assim o possa traduzir.
    Mas concordo igualmente com o que aqui (e noutros posts!) tens expressado, que o final de vida deve ser assegurado com o conforto e dignidade que merecemos, através dos cuidados continuados e paliativos, para quem assim o deseje.
    Mas independentemente da minha opinião, também eu fiquei absolutamente aterrada com a resposta que recebeste do Grupo Parlamentar "Os Verdes"!
    Fica-me a pergunta: é gente desta que nos defende na AR?
    E deixo-te outra pergunta: posso partilhar o post no Facebook?
    O objectivo é divulgar a atitude que os nossos representantes tomam, para que quando chamados a escolher os deputados possamos não voltar a cometer os mesmos erros e saibamos ser um pouco mais inteligentes e exigentes nas escolhas que fazemos.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada pelo comentário. Agradeço a partilha. É algo grave demais. Beijinhos

      Eliminar

Obrigada por dar vida a este blog.

15 anos depois

15 anos depois, eis que tive alta da consulta de onco-hematologia.  Diz a médica que as maleitas de que me queixo parecem ser coisas de “pes...