sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Coragem

Nos últimos tempos, muita gente me tem elogiado a coragem e dito que não sabe se também a teria.

Agradeço os elogios, mas não me sinto assim tão corajosa. Como já aqui disse, uma vez, não tive alternativa. Ninguém me perguntou se queria ter um linfoma. Tive mesmo de "enfrentar o touro pelos cornos".

A lida foi, talvez, "facilitada" por já ter tido outros contactos bem próximos com este tipo de doenças.

O exemplo de força e determinação da minha mãe e padrinho (sobre ele escreverei um dia) foi, de tal forma, marcante que me deu as bases necessárias para reagir.

Depois, o facto de me sentir muito amada e acarinhada por família, amigos e colegas faz com que tenha a mania que iria fazer falta a algumas pessoas.

Tive medo de morrer, não o nego. E não foi por mim, acreditem. Não podia magoar aqueles que me amam. Queria muito ter forças para cuidar da Leonor.

A ideia de fazer quimio assustava-me muito. Associei sempre a quimio a decadência física. Não é nem tem de ser assim. Agora sei que "cada caso é um caso". A mim, fez logo desaparecer aquela comichão que nem me deixava dormir, por exemplo.

Passou-me muita coisa pela cabeça, quando me diziam para pensar em mim, porque a Leonor tinha muita gente para tratar dela. Estava tão confusa que cheguei a interpretar este tipo de mensagem de ânimo como um sinal de que poderia partir. Que a Leonor ficaria bem.

Felizmente, este tipo de medo passou. Lembro-me de um dia em que me fixei no pensamento de que não podia fazer ao Nelson a "sacanice" de o deixar sózinho com a Leonor.

E, de pensamento em pensamento, mas sempre convicta que Deus não me colocaria um obstáculo que eu não conseguisse superar, fui serenizando.

Acho que é normal ter medo, especialmente de uma situação tão desconhecida, não podemos é ficar paralisados.

Temos de reagir, tentar distrair-nos, procurar ajuda (no meu caso, na blogosfera) de quem já viveu situações semelhantes e sabe bem quais as angústias que se vivem perante o diagnóstico de uma doença difícil, mas não impossível, de combater.

Em resumo, o que queria dizer (especialmente a quem descobriu recentemente que está doente) é que todos somos corajosos. Todos temos capacidade de reagir.

A quem, neste momento, falham as forças deixo uma mensagem que recebi no telemóvel no dia em que estava no IPO (grávida de 19 semanas) para fazer a 1.ª biópsia excisional:

"Deus te ama. Tu não estás só. Deus te ama, quando fala pela Sua voz e te diz coragem! Confia Nele e força.

O incrível desta mensagem é que a minha querida Amiga Joana Quina não sabia, quando ma enviou, onde estava nem o que ia fazer









Sei que só terei alta clínica daqui a 5 anos, mas acredito que não terei qualquer recaída.

4 comentários:

  1. Mais uma corajosa guerreira... Força Susana!

    Desejo que todos os teus sonhos se concretizem!
    Desculpa vou tratar-te por tu, és tão jovem, e a mim podes fazer o mesmo!
    Beijinhos

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  2. revejo-me nesse texto, tb passei por essas angustias e medos, tb tive muito medo de morrer não por mim mas pelo meu filho pela minha familia, mas tal como tu estou aqui com uma enorme vontade de viver,e vou vivendo um dia de cada vez, mas que espero por muitos anos e daqui a 5 anos quero gritar ao mundo "eu estou curada" e acredito que o vou fazer, acreditar é a palavra de ordem, por isso Susana acredita, acredita que vais vencer

    beijinhos
    ..

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  3. Olá Miúda!
    Ganda post... tão grande que esbarrei nele e tive de parar para ler e, claro, comentar... Felizmente nunca me deparei com uma situação parecida com a tua, acredito que o impacto inicial seja bastante dificil de gerir e digerir... O que vale, além da força interior, a vontade de viver são as pessoas que nos rodeiam. E tu... miguita, arranjaste m clube de fãs capaz de fazer inveja a muita pop star...
    Uma beijoka!
    E bom fim de semana

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  4. Em boa verdade te digo que, apesar de tudo o que possas dizer, tens sido muito, mas mesmo muito corajosa; nada, nem ninguém te pode tirar esse mérito.
    Agora que tbm tens tido paletes de pessoas que têm demonstrado na prática o significado da palavra Amizade, lá isso não se pode desmentir.
    Mas certo é que, qdo alguém teu conhecido precisa de um ombro amigo, pode contar com ele, né? E não me alongo mais, porque estou apenas a postar um comentário e não a escrever um livro!
    bjs

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