Ouvi hoje que o Bastonário da Ordem dos Médicos vai propor uma alteração legislativa no sentido de a dispensa para aleitação ser alargada para três anos, independentemente de a mãe amamentar ou não.
Como mulher e mãe trabalhadora considero, obviamente, muito positivas todas as medidas que visem reforçar a protecção da parentalidade.
Infelizmente, a experiência diz-me que esta ideia é avançada demais para que, ainda que venha a ser adoptada, produza efeitos práticos.
A mentalidade portuguesa (detesto falar assim, mas é a verdade) ainda está muito fechada a essa modernice de conciliar a vida familiar e profissional.
E não se pense que o cenário é diferente havendo chefias femininas.
Presentemente, o que temos é o direito a uma dispensa para aleitação (dois períodos distintos de uma hora cada) até o bebé fazer 1 ano; no caso de a mãe amamentar, para além dos 12 meses, a licença para amamentação dura enquanto durar a amamentação que terá de ser comprovada através da apresentação de atestado médico.
A lei é omissa quanto a pormenores tão básicos quanto: quem é que define o período em que será gozada a dispensa" e com que periodicidade terá de ser comprovada a amamentação?
Presumo que o legislador tenha confiado no bom senso das partes. Acontece que este nem sempre impera e, de facto, seria importante preencher estas lacunas.
Alargar a dispensa para aleitação para 3 anos, antes de se trabalhar as mentalidades das chefias é, talvez, querer dar um passo maior do que a perna.
A verdade é que, regra geral, já é um stress para uma mãe conseguir usufruir da dispensa para amamentação (até aos 12 meses). Gozar a dispensa para amamentação, depois dos 12 meses, então é um feito. Lembram-se da notícia recente daquela enfermeira? Transportem agora aquela mãe para uma empresa industrial e imaginem a cena.
Gostaria de ressalvar que não se pode generalizar e falo somente com base naquilo que tenho visto.
Agora a parte difícil. Como é que se mudam mentalidades ? (a hipótese transplante de cérebro não me parece viável).
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