segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A minha praxe

A discussão que se instalou à volta das praxes, fruto do infortúnio dos 6 jovens que alegadamente morreram durante actividades com elas relacionadas, tem-me feito relembrar a minha própria experiência.

Fui praxada, praxei (muito pouco, dado que nasci desprovida do dom de dar ordens) e cheguei a ser uma, orgulhosa, madrinha de 2 caloiros.

Na minha universidade (Católica do Porto), a praxe não passava muito do cantar a "vaca leiteira" e andar de joelhos (ou terei sido eu a ter tido sorte).

Nunca vi nada que me chocasse, talvez por já estar enraizada a ideia de que a praxe é algo natural, embora fosse notório o facto de alguns dos "doutores" aproveitarem o momento para exorcizar algumas frustrações.

Lembro-me do orgulho que sentia ao entrar no autocarro de chupeta vermelha ao peito e penico cor-de-rosa debaixo do braço, símbolos do estatuto adquirido ao entrar na faculdade.

Lembro-me também da vaidade ao usar o traje (estava tão parvinha que nem me apercebi de ter comprado um traje 3 tamanhos acima).

Em resumo, vista à distância de 20 anos, a praxe é uma coisa pateta mas que, na altura, me divertiu (enquanto caloira e doutora) e serviu para conhecer os meus novos colegas (quer as bestas, como eu, quer os ilustres doutores).

Nada mais do que isso.

Acreditar que a praxe ajuda a preparar para a vida só revela ingenuidade (para não dizer estupidez), quanto mais não seja porque só quem já viveu (leia-se quem tem alguma experiência de vida) pode  transmitir experiência aos outros.

E não serão, certamente, um "dux" e uns "doutores", que nunca  foram além do recinto da faculdade, que estarão aptos a fazê-lo.

Não sou, por isso, anti-praxe.

Sou contra a ideia que inculca aos caloiros (e isso pude presenciar) de que os anti-praxe são uma espécie de leprosos que ficam marcados para o resto do curso.

Sou pela sensatez, de doutores e caloiros.

Acima de tudo sou pela importância de ter opinião própria e ter a capacidade de a afirmar , independentemente daquilo que os outros pensam.

Nesta história do Meco o que me choca (para além da perda de 6 vidas humanas) é o facto de, aparentemente, existirem umas espécies de sociedades secretas (que eu acreditavam serem apenas fruto da imaginação de escritores como o Carlos Ruiz Záfon) e de os seus membros serem cobardes ao ponto de manter o silêncio sobre os seus rituais.

Obviamente que não daria vida àqueles jovens mas, certamente, traria alguma serenidade aos seus pais.

Espero, sinceramente, que esta tragédia sirva para que todos possamos reflectir e encontrar alguma razoabilidade neste mundo que nem sempre a tem.



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