terça-feira, 11 de abril de 2017

A (a)normalidade dos excessos

Por estes dias tem-se discutido muito a, para alguns, normalidade dos excessos cometidos por adolescentes nas viagens de finalistas.

Tenho ouvido muitas teorias e, como qualquer bom treinador de bancada, não deixei de formular a minha. Antes de mais, parece-me existir uma enorme confusão ao nível dos conceitos.

O facto de uma coisa (no caso os ditos excessos) ser comum, não a torna normal.

Os excessos são comuns, de facto, e existem desde tempos imemoriais. O meu avô, que teria hoje quase um século, conta as pedradas trocadas durante o bailes e os seus relatos davam sempre origem a risota. Eram coisas "sem maldade", porque passadas e vistas já com outros olhos, que se ocorressem hoje dariam origem a parangonas nos jornais e as amplas discussões sobre a violência que se vive na nossa sociedade.

Aquelas pedradas, embora comuns no início do sec. XX, não eram normais. Somente comuns, parece-me. Eram violência pura e dura. Apesar de, na época e aos nossos olhos, "não existir maldade".

Os excessos são anormais até porque acredito serem cometidos por minorias que conseguem sempre mais tempo de antena do que a maioria que sabe efectivamente o que é diversão.

Mas mais anormal que os excessos dos nossos jovens (Torremolinos à parte, porque parece que já só está em causa o cumprimento de condições contratuais pelo hotel) é a desculpabilização a que se assiste por parte dos paizinhos.

Palavra que é algo que não compreendo. É óbvio que as viagens, como todas as outras experiências na vida, fazem parte da aprendizagem.

Claro que o facto de um miúdo ter partido um vidro não o torna um delinquente e nada diz quanto ao seu carácter enquanto adulto. Aliás, apesar de ouvir a história contada na 1.ª pessoa, creio que ninguém conseguia sequer imaginar o meu avô à pedrada.

Mas também me parece claro que essa aprendizagem (fundamental a todos os níveis) não é sinónimo de ignorar as asneiras só por serem comuns.

É tudo muito lindo, mas em vez de se discutir o valor dos danos patrimoniais podíamos estar a lamentar danos físicos. Sim, porque também é comum os jovens desafiarem-se mutuamente e a coisa nem sempre corre bem.

Verdadeiramente anormal e chocante é ouvir uma mãe a dizer que se queriam clientes bem comportados, deviam ter comprado um hotel em Fátima.

Que sinal estamos nós, adultos, a passar aos nossos jovens? Qualquer coisa como "És jovem e cheio de vida, bebe até cair para o lado. Não te preocupes com as consequências que os papás pagam os estragos?!!! E depois reclamamos o preço dos livros e acusamos o Estado de falta de apoios sociais!".

Com estes exemplos, de facto, não podemos exigir mais aos jovens.

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