sábado, 6 de fevereiro de 2010

Como se afastam os fiéis

A minha avó sempre me ensinou que não íamos, ou deixávamos de ir, à Igreja por causa do padre que lá estava. Íamos por uma questão de fé e devoção e ponto final.

E de facto é assim que devia ser. No entanto, é inegável que o bom acolhimento dos intermediários de Deus na Terra é determinante para cativar ou desmobilizar os fiéis.

A capacidade de transmitir os princípios da fé, de forma adequada à vida actual e sem fechar os olhos à realidade e a linguagem clara e sem falsos moralismos são características que muitas vezes faltam na Igreja e é com tristeza que o constato.

Ontem tive mais um triste exemplo de como o facto de encontrar um "mau Pastor" pode fazer com que o rebanho se disperse.

Quero baptizar a Leonor em Maio, aproveitando para festejar o seu 1.º ano de vida. Por todos os motivos possíveis e imaginários, sonho com um dia especial e queria marcá-lo com uma Eucaristia de Acção de Graças. Uma cerimónia individual e animada pelo meu Grupo de Jovens "Adoramus TE".

Como não me passa pela cabeça ter de mentir a um Padre(como sei que sucede muitas vezes) para conseguir contornar algum requisito, caí no erro (pelos vistos) de dizer a verdade.

Expliquei ao sr. padre que não vivíamos naquela Paróquia, mas queríamos que a cerimónia se realizasse ali, pois é onde vivem os padrinhos e onde se realizará o convívio com familiares e amigos. E que gostava que a cerimónia fosse individual pelo significado que a comemoração encerra (lá contei que me tinha sido diagnosticado cancro durante a gravidez ...).

O que eu fui fazer. Parece que cometi um crime lesa-majestade. Para já, nas palavras do Sr. Padre, a minha intenção de ter uma cerimónia individual é pouco eclesial. Segundo me disse (e consigo perceber) a intenção de quem vai à Igreja deve ser igual independentemente de a pessoa ir agradecer ou pedir. Ok e o que é que isso tem a ver com o facto de que goistar de ter uma cerimónia mais intimista? Será que é egoísmo da minha parte?

Depois veio a lição de Direito Canónico. Segundo o Cânone ..., do Código de Direito Canónico de 1982, rege o Princípio da Territorialidade. Ou seja, a criança deve ser baptizada na paróquia onde reside, mesmo que não tenha ligação nenhuma a essa Paróquia, como é o caso. O que significa que teríamos de fazer um requerimento ao nosso pároco que, caso o entendesse, o remeteria ao Bispo da Diocese do Porto. Este, por sua vez, remeteria o requerimento ao Bispo de Diocese de Aveiro e logo se veria.

De repente pensei estar a sonhar, mas um sonho daqueles de mau gosto. Tenham dó, farta de códigos estou eu. Uma aula de direito canónico era a última coisa que queria. Nunca vi nada tão descabido. E eu até frequentei as aulas da disciplina, extra-curricularmente, durante 1 semestre.

Por acaso a minha formação académica é o Direito, coisa que o sr. padre desconhecia, pelo que a linguagem técnica e alusões ao "espírito do legislador" me são familiares, mas por favor. Eu só queria baptizar a minha filha. Não é assim que se recebem as pessoas. Por estas e por outras é que as Igrejas estão cada vez mais vazias. Este tipo de entrave não faz sentido nenhum. Quem é que, nos tempos que correm, tem disponibilidade para fazer requerimentos e andar de um lado para o outro para tratar de burocracias sem sentido?

Não admira que as pessoas desistam. Senti também uma falta de humanismo que me chocou. O sr. padre nem me perguntou como me sentia ou sequer desejou as melhoras. LImitou-se, pura e simplesmente, a debitar a sua interpretação pura e dura do Código de Direito Canónico.

E tinha sido tão simples. Bastava-me ter dito que morava na Paróquia e dar a morada da minha Dina.

Enfim, uma experiência para esquecer.

Felizmente não sou de generalizar e tenho consciência que é pelos Princípios da Fé Cristã, nos quais acredito, que me devo reger e não pelo que dizem ou fazem alguna maus representantes da Igreja que não passam de Homens como eu.

3 comentários:

  1. haja paciência....
    beijinhos e não desistas

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  2. A malta tem de ouvir com cada coisa. Desde quando receber mais um cristão depende do local de residência? Há aspectos da Igreja que realmente não se conseguem compreender.
    Eu na fase que ando não tinha saido de lá sem pedir o livro de reclamações :). Já agora quem será a entidade reguladora? :)
    Se precisares de uma morada de Albergaria é só dizer.
    Beijinhos e a ver se marcamos novo encontro para terapia do riso.

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  3. muito "cumpridor", esse Servo de Deus! já gramei com alguns assim, que, até em funerais, mostram falta de humanidade para com os parentes dos falecidos e já nem sequer falo em casamentos e baptizados.
    mas a nossa princesa-rainha terá o seu dia especial, tal como desejas. Já te lembraste da capelinha onde comemorei as bodas de prata do casamento?
    bjs

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