sábado, 4 de agosto de 2012

A um mês do fim



Esta foto foi tirada a um mês do fim da quimio.

Ao olhar para ela, fico sem palavras. Lembro-me da precrição da prótese capilar (como lhe chamou a médica), que me foi apresentada como uma fatalidade. Disse que a ia querer, no imediato, mas depois algo em mim impediu que a fosse escolher.

Lembro-me das vezes em que fui à cabeleireira, cortar o cabelo aos poucos, para custar menos a mudança de imagem. Lembro-me de rezar para que ninguém falasse comigo naquele momento.

Vivia aterrorizada com o dia em que teria de usar um lenço. Nunca tive jeito para adereços. Lembro-me, como se fosse hoje, de ir ao shopping com o meu marido escolher alguns. A dor era tanta, que parecia que me estavam a espetar facas no coração.

Lembro-me de estar dias a fio sem tocar no cabelo, numa tentativa de o salvar.

Lembro-me de como me tentava esquivar aos toques da Leonor (talvez por isso ela tenha, agora, uma predilecção pelo meu cabelo).

Lembro-me de uma das vezes em que cheguei da cabeleireira e, ao entrar no quarto, a Leonor começou a choramingar. Lembro-me de sair so quarto a correr, para chorar no quarto ao lado, a penspor que já não me reconhecia. Lembro-me de o meu pai se ter apercebido da situação e do abraço forte que me deu para suavizar a dor.

Para meu grande espanto (e alívio), o cabelo, cujo peso sentia nos ombros ao cair, foi aguentando e os lenços acabaram por seu usados ao pescoço.

Podem dizer que é só cabelo, que volta a crescer normalmente (ou aos caracóis). Sei que é verdade, mas não deixa também de ser também a moldura do nosso rosto, um símbolo da nossa feminilidade.

Até nisso tive sorte. Apesar de toda a angústia (que sempre tentei esconder), o cabelo aguentou-se e houve quem pensasse que estava com  cabelo fraco por causa do pós parto.

Tive (e tenho sorte), mas não consigo evitar estas lembranças.

4 comentários:

  1. Eu ia apanhando os cabelos que apareciam em todo o lado, até nos babetes da bebé, sempre a tentar que não te apercebesses...
    Todas as situações que referiste, tenho-as gravadas na memória.
    O cancro afeta a pessoa que o tem, a família e os amigos; Tu, felizmente, tiveste uma força incalculável para o enfrentar, e a união da família e dos amigos, também muito importante; todos a remar para a frente!
    bj

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  2. Chérie, estou aterrorizada a pensar no estado em q vai ficar o meu cabelo. Ja pensei se hei-de cortar, rapar, antes q caia, ou esperar (esperançosa) q afinal nao caia... e dizerem-me q volta a crescer nao ajuda; sei la eu se estou ca o tempo suficiente para q ele volte a crescer!... bisous

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  3. E pensar que ao pensar na possibilidade de o teu cabelo cair, deixei o meu crescer para to dar! De coração, adoro te!

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  4. Pois é, tudo isso que referiste é a pura verdade. A parte dos cabelos, é muito complicada porque é a face visivel da doença. Da 1ª vez que tive doente o cabelo só me caiu todo já quase no fim do tratamnento, o que é um bocado ridiculo.

    Houve gente que só soube que eu estava doente, quando eu já tinha acabado os tratamentos, porque me viu sem cabelo (de lenço, claro).

    O que me valeu, foi que o Jota tb tem sempre o cabelo rapado e faziamos um belo par de carecas.

    Hoje consigo sorrir ao lembrar.me disto, mas na altura, brrrr....nem me quero lembrar. Beijos.

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Obrigada por dar vida a este blog.

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